Cidades Imateriais
Margareth da Silva Pereira e
Regina Helena Alves da Silva
O trabalho de Paula de Paoli busca mapear as questões que estão à base do conceito de patrimônio em suas duas dimensões, material e imaterial. Os documentos analisados são as Cartas Patrimoniais produzidas pelos órgãos internacionais de preservação ao longo do século XX. A hipótese da autora é que a distinção entre o patrimônio dito “material” e aquele dito “imaterial” refletiria, mais do que uma substancial diferença na natureza física dos bens, a existência de dois momentos distintos na história das práticas de preservação. O que a comunicação sublinha é que estes dois momentos, cada qual ao seu modo, foram inscritos em um pensável sobre a(s) sociedade(s) e a(s) cultura(s), declinadas como uma expressão no singular ou capaz de ser lida em sua pluralidade.
Claudia da Graça Fonseca propõe reflexões acerca da experiência urbana e o papel da comunicação na constituição desta experiência. No seu texto os usos das ruas são pensados como interações comunicativas que atribuem significados aos espaços em que eles acontecem transformando a significação destes espaços ou atualizando significados circulantes. Este trabalho é desenvolvido a partir de uma cartografia dos sentidos urbanos.
Seguindo a esteira simmeliana, explorada por de Paoli e Fonseca, para falar da importância que a noção de patrimônio imaterial ganha na atualidade, Luciano Bernardino da Costa se interroga sobre o papel da fotografia nos modos de subjetivação e objetivação da experiência da metrópole. É na leitura de W.Benjamin e de seu conceito de “ebriedade” que ele capta insumos tanto para sublinhar a dimensão visual que não só o olho mecânico da maquina fotográfica explicita mas também manifesta e reproduz quanto a ambigüidades de seus usos no enquadramento das “cidades” em sua materialidade ou do próprio corpo do sujeito moderno: crítico e em crise, errante e anônimo, em permanente atopia.
Corpos Nômades entram em cena pelo cortejo da Festa da Bandeira onde Fabio Macedo Velame trata do processo de reterritorialização do Culto aos Egum do Omo Ilê Aboulá. Reterritorialização que se dá através do fluxo de corpos individuais de membros do culto reunidos em um corpo coletivo atualizado nos cortejos das festas da Bandeira. O cortejo como uma maquina de guerra nômade de ação contra o esquecimento, a indiferença , o preconceito, como uma ferramenta de resistência que em sua faceta corporal encarna as dimensões materiais e imateriais de uma cultura afro-brasileira.
Corpos nômades e corpos que lutam, lugares de reterritorialização de praticas e sentidos, espaços de participação, vivencia e experiência urbana. Dimensões materiais e imateriais que criam grupos de ações solidárias e grupos de Capoeira Angola nos vazios urbanos. Espaços alternativos são criados por grupos que agem através de ações culturais. Formas de resistências e experiências culturais segundo Lílian Fessler Vaz e Claudia Seldin que se situam na contramão das forças que promovem o individualismo, a alienação e a espetacularização.
Anita Loureiro de Oliveira traz para esta discussão os sons, a música. Seu trabalho aponta para o processo subjetivo de apropriação da cidade que na sua representação simbólica produz letras e sonoridades. Estas permitem pensar a cidade como construção subjetiva e plural e revela encontros e confrontos de diferentes modos de pensar e agir próprios do espaço urbano. Neste processo de usos e apropriações da cidade, a musica também promove encontros festivos e manifestações culturais.
Destas manifestações nos falam Margarete Conrado e Eloísa Domenici a partir do estudo sobre os Maracatus Nação de Pernambuco. Aqui surge mais um elemento: a interação do cortejo nas ruas com a estética da arquitetura barroca das cidades coloniais. Este trabalho propõe uma reflexão a cerca das conexões estabelecidas no espaço urbano percorrido pelos cortejos do Maracatu entre o corpo que dança e os aspectos sacro-profano da estética barroca.
A festa também pode ser entendida como uma mega evento de rua, uma atividade efêmera, cuja realização impõe a ruptura da dinâmica cotidiana de lugar, do entorno ou de uma cidade. Cidades Efêmeras de Ana Carla Cortes de Lira propõe uma abordagem da festa como fato urbano e busca pensar a relação espacial d festa com o espaço urbano. Aqui é apontada a necessidade de incorporação das tradições culturais às questões relativas ao planejamento e projetos de desenho urbano.
Voltamos a pensar os processos intercomunicacionais da relação cidade material/imaterial e para alem destes aspectos João Vilnei nos propõe um jogo: gentilandia.com Um jogo onde a interação se dá também no meio virtual. Este meio é um ponto de partida para se jogar com/no computador mas que exige o deslocamento do jogador pelos espaços da cidade como forma de decifrar os enigmas do jogo – da cidade? |