vol.1
n. 01 _ março 2008 __ paisagens do corpo 
vol.1
n. 05 _ modos de subjetivação na cidade
 
vol.1
n.4 _ corpografias urbanas  
 
vol.1
n. 3 _ cidade como campo ampliado da arte 
 
vol.1
n. 02 _ cidades imateriais  
 
vol.1
n. 01 _ paisagens do corpo   
   
 

"Paisagens  do  corpo" desdobra-se em ações

por Joubert Arrais
da redação Revista Dobra

Apenas um lance de vista é insuficiente para perceber as representações da cidade em nossos corpos. Precisamos aguçar o olhar, que, de fato, fazemos parte dessa dinâmica urbana. Para tanto, ações de encontro são providenciais, como o seminário internacional "Paisagens do corpo: imagem, corpo e cidade", realizado em abril de 2007. Nele foram semeadas as primeiras idéias do que hoje é a Plataforma de Ação CorpoCidade, da qual a Revista Dobra faz parte, e cuja culminância será na segunda quinzena de outubro desse ano, em Salvador, capital baiana.

Marcaram presença no seminário internacional os professores Henri-Pierre Jeudy, Patrick Baudry e Massimo Canevacci (que, além da palestra, apresentou o seminário performátivo "Sandmann: corpo, metrópole e fetichismos na comunicação visual", com a coreógrafa e performer Sheila Ribeiro). Esse evento também se configurou como extensão das atividades do acordo franco-brasileiro CAPES/COFECUB, “Territórios Urbanos e Políticas Culturais”, coordenado por Paola Berenstein Jacques, do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFBA) e Henri-Pierre Jeudy (CAPES-COFECUB).

Pois o terreno era, e ainda é, fértil, desdobrando-se em outras ações de encontro. De lá pra cá, fortaleceu a parceria entre o PPGAU e o Programa de Pós Graduação em Danca (PPGDanca-UFBA). A primeira configuração dessa ação coletiva é o lançamento de uma edição especial dos cadernos PPGAU, batizado, não à toa, com o mesmo nome do encontro internacional. Assim, nesta edição, estão reunidos artigos dos palestrantes, somados à colaboração de Fabiana Britto, coordenadora do PPGDanca, e Dulce Aquino, diretora da Escola de Dança da UFBA.

Neste número especial, lançado na quinta-feira, 06 de março desse ano, na Faculdade Arquitetura e Urbanismo da UFBA, é possível perceber ambiências que emergiram das discussões do "Paisagens do Corpo" e que norteiam a Plataforma de Ação CorpoCidade. São elas, a relação entre corpo e ambiente; a fetichização do corpo; o corpo como objeto de arte; a pornografia enquanto experiência urbana e esta experiência enquanto modo de configuração de corporalidades –  ou corpografias; a tessitura do espaço na dança; e a passagem da cidade à metrópole, a partir do trinômio cultura-consumo-comunicação.

PAISAGENS DO CORPO E SUAS AMBIÊNCIAS

Eis um pouco dos desdobramentos das discussões presente no caderno especial Paisagens do Corpo.

Fabiana Britto coloca que "as coisas existentes manifestam-se como sínteses transitórias dos seus processos relacionais com outras em seu ambiente de existência". Dulce Aquino problematiza afirmando que "os objetos artísticos têm sido os indicadores dos processos mentais que os criaram e, portanto, fonte de conhecimento da percepção sensorial do espaço". Nessa relação corpo-ambiente, Massimo Canevacci complementa, dizendo que "o sujeito metropolitano é um observador partícipe como o antropólogo", pois pratica o transurbanismo, ou seja, vive a mudança, vivencia a passagem.

Henri Pierre Jeudy afirma que "o ato do artista, este ato corporal que dá sentido ao evento, já é o fruto da sua conceitualização", um ato que produz um “efeito de significância” porque é um conceito “realizado”. E que vai de encontro à obsessão do  "pôr em comum" para fabricar novas singularidades. Já Patrick Baudry questiona se "a sexshop denotaria literalmente de uma descontinuidade na cidade" para refletir sobre a relação imagética do espaço urbano e o crescimento da pornografia na sociedade de modernidade. Ambos contribuem para refletirmos sobre o que se organiza da cidade no nosso corpo e o que do nosso corpo permanece na cidade.

E novamente Canevacci, agora com a coreógrafa Sheila Ribeiro. Ambos discorrem sobre o seminário performativo "Sandmann - corpo, metrópole e fetichismos na comunicação visual", apresentado junto com o "Paisagens do Corpo", em abril de 2007. O seminário, que optou sabiamente pelo formato artístico-acadêmico, foi concebido em torno do conto de E.T.A. Hofffmann, Der Sandmann (o homem de areia). Com isso, pretendem, a partir desse conto-ópera, "libertar o fetichismo das incrustações de domínio ligadas não só ao sexo e à mercadoria, mas também às religiões, mitos, superstições". Não para purificá-lo, ressaltam, mas sim para afirmá-lo através de seus impulsos metamórficos de se experimentar.

Fechando o número especial, Fabiana Britto e Paola Berenstein tecem discussões sobre a relação corpo e cidade, propondo o estudo das corpografias como fator de articulação entre políticas culturais e territórios urbanos. "Um diálogo efetivo entre arquitetura, urbanismo, artes e dança pode ser muito eficiente para entender como corpo, arte, ambiente e cidade se relacionam na contemporaneidade e promover uma discussão crítica acerca dos modos como se processam essas noções nas práticas e discursos produzidos nestes diferentes campos do conhecimento", defendem.

>> download caderno especial Paisagens do Corpo